JavaScript não suportado

 

[EASYCOOP] Integração das organizações do Nordeste é ponto da oficina Conexsus em Pernambuco

 

A Oficina de Negócios Comunitários Sustentáveis do Desafio Conexsus realizada em Glória do Goitá (PE), nos dias 04 e 05 de setembro, reuniu representantes de cerca de 20 organizações dos estados de Pernambuco, Alagoas, Ceará e Rio Grande do Norte. A maior parte dos negócios participantes fazem parte da cadeia do extrativismo ou da agricultura familiar, destacando-se a produção de orgânicos, polpa de frutas e mel. O evento foi recebido pelo SERTA – Serviço de Tecnologia Alternativa na cidade.

Um dos destaques percebidos pela Conexsus – Conexões Sustentáveis, responsável pelo Desafio, foi a maturidade das entidades participantes sobre negócios. “O conteúdo que tratamos em conjunto caiu como uma luva e a compreensão e conhecimento que os participantes têm sobre negócios é bastante madura. O nível de discussão foi alto e profundo”, comenta o integrante da Conexsus e responsável pela oficina pernambucana, Junior Fragoso.

Uma das organizações participantes é a Cooperativa Central da Agricultura Familiar do Rio Grande do Norte, a COOAFARN, que surgiu a partir da necessidade de cooperativas singulares se organizarem em rede para a consolidação da comercialização dos produtos da agricultura familiar e economia solidária de base agroecológica, ofertando produtos saudáveis a preços justos. Ela reúne nove cooperativas e é responsável pela gestão da Central de Comercialização da Agricultura Familiar e Economia Solidária do Estado do Rio Grande do Norte (CECAFES). Atualmente, utilizam mecanismos de compras públicas como PNAE e PAA Institucional para realizar a comercialização de seus produtos.

O entendimento sobre modelo de negócio e de operação demonstrado pelas organizações foi também um aspecto destacado pela diretora de operações da Conexsus, Carina Pimenta. “Os temas do Desafio estão muito alinhados com o que as organizações participantes aquiestão fazendo. O nosso desafio é combinar as questões socioambientais com a melhoria do modelo de organização e rentabilização delas”, esclarece. O intercâmbio entre os representantes, em especial na cesta de oportunidades, momento em que as organizações trocam informações sobre seus produtos, é fundamental para o impacto necessário, segundo Pimenta.

A representante da COOAFARN e da Unicafes-RN, Fátima Torres, argumenta que trabalhar com negócios sustentáveis é exatamente a pauta das organizações de agricultura familiar. Porém, acha que ainda falta mais envolvimento entre elas. “Essa ligação do Nordeste é algo que há tempos a gente precisa fazer, porque aqui na região acabamos sendo mais desconectados que no Sul, por exemplo”, avalia.

Sandra Alves Soares, representante do Portal do Orgânico, instituição cearense, tem expectativa de que o encontro gere frutos e traga ainda mais integração e sucesso aos empreendimentos envolvidos. “Foi muito rico conhecer outros projetos do Nordeste muito diferentes da nossa experiência. Tão importante quanto ter acesso a essas pessoas é ter acesso aos seus produtos e conhecer experiências que possam agregar ao nosso projeto”, comenta. O Portal do Orgânico nasceu pela necessidade de criar mercados para os produtos orgânicos cuja produção não era absorvida pelos meios de comercialização utilizados. O Portal idealizou a Associação Carcará Orgânico (ACO) e busca recursos para capacitar a comunidade onde está inserido para os Sistemas Agroflorestais (SAFs) na inclusão de café e frutíferas.

Criação de novos mercados

Assim como o Portal do Orgânico investiu em novos mercados no início de seu percurso, é interessante que, em rede e com orientação, as demais organizações também busquem essas alternativas. Esse é um dos propósitos do Desafio ao fomentar as conexões. “Algo que os participantes colocam como desafio é unir essas redes de comercialização no Nordeste, a esperança é que de fato essa rede se consolide daqui para frente. Para isso é necessário levar em conta espaços alternativos, como feiras e outras formas de venda para potencializar a comercialização e a integração”, contextualiza Júnior, da Conexsus.

Para a agricultura familiar, é essencial que esses novos mercados sejam descobertos e trabalhados pelos negócios. É o que pensa o técnico do Centro de Desenvolvimento Sabiá, Davi Fantuzzi. “O debate sobre a comercialização foi o que mais me chamou a atenção. Existe uma perspectiva de construção social de mercados e não só de inserção da agricultura familiar nos mercados convencionais, pois eles nem sempre são os mais adequados para organizações da agroecologia”, pondera. Ele também destaca a real construção de conhecimento gerada na oficina, não apenas a reprodução de um pensamento padrão de expansão. O Centro Sabiá foi parceiro da Conexsus na realização da oficina e assessora famílias de agricultores da agroecologia na busca de seus direitos.

Metodologia aplicada

A busca de soluções para os principais desafios que os negócios comunitários sustentáveis enfrentam é o que tem guiado a programação das oficinas, que estão sendo replicadas em 12 cidades pelo país, entre elas, Recife. Desenvolver modelos de negócios rentáveis, ampliar a comercialização, o acesso a mercados, a crédito e a outras soluções financeiras são os eixos dessa programação. Para que os objetivos sejam alcançados, é fundamental atuar com uma metodologia que seja assimilada por todos no tempo em que a oficina é realizada, durante dois dias.

O representante da Cooperativa dos Apicultores da Região Semiárido (COOPERNECTAR), Manoel Jorge da Silva, valoriza as técnicas utilizadas durante o evento. “Me surpreendeu a forma simples, porém muito profissional de metodologia da oficina. Falaram com eficiência sobre pontos dentro da nossa realidade, que não é de conhecimento técnico e teórico, mas sim de produção e venda na prática”, comenta. “O evento trouxe raízes dos nossos problemas, que antes não tinham solução. Abriu nossa visão sobre como solucionar”, completa. A COOPERNECTAR foi fundada em 1988 como associação (APROMEL) e atua com homens e mulheres produtores familiares da comunidade quilombola.

Desafio Conexsus 2018

A Oficina de Negócios Comunitários Sustentáveis faz parte de um ciclo de encontros que teve início em junho, em Belém (PA), e está sendo realizado em mais 12 cidades que reúnem, até setembro, representantes de todas as regiões brasileiras. Além disso, serão realizadas visitas técnicas a algumas organizações para compreender melhor o funcionamento e produção delas. Ambas as atividades devem abranger cerca de 300 participantes do Desafio Conexsus.

Os mais de mil negócios cadastrados na iniciativa, durante os meses de maio e julho, compõem o Mapa e o Panorama de Negócios Comunitários Sustentáveis no Brasil, aberto para consulta online pública pelo site www.desafioconexsus.org. As organizações interessadas em participar do Desafio ainda podem se cadastrar no site para acompanhar oportunidades futuras, bem como integrar a rede nacional de negócios comunitários sustentáveis que está em formação.

Uma das expectativas é que estes empreendimentos, os parceiros cocriadores da iniciativa e outras organizações que compõem esse ecossistema de negócios sustentáveis tornem-se uma rede ativa de fomento ao desenvolvimento sustentável, com a possibilidade de atrair e criar outras oportunidades além das já previstas para o Desafio Conexsus 2018.

Após a realização das oficinas, 70 participantes serão convidados a participar do Ciclo de Desenvolvimento de Negócios Comunitários Sustentáveis, que conta com uma jornada de aceleração, oficinas de modelagem de negócios, laboratório de soluções de acesso à comercialização e mercados, e laboratório de crédito e soluções financeiras.

Participantes e Parceiros

Estiveram presentes na oficina em Glória do Goitá: Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), Central da Caatinga, Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá, Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (CONTAG), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS), Instituto Terra Viva, IRPA, UFRPE- Universidade Federal Rural de Pernambuco e União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (UNICAFES).