Os últimos anos têm presenciado muitas ações ativistas em prol de pessoas que possuem gênero e sexualidade periféricas. Essa realidade configura uma rede de práticas sociais que revela múltiplas vozes dissonantes em embates que não se restringem ao Direito, à política governamental ou à militância de coletivos LGBT+ organizados, mas envolvem todos os setores da vida social, como a família, a escola, as religiões, a mídia, a Saúde e a ciência.
Trata-se de uma mobilização que tem se revelado como arena na luta pela democratização dos significados de aspectos importantes para a formação cultural e para a garantia de direitos sociais, posto que o problema da exclusão que essas pessoas sofrem é historicamente multicausal e tem efeitos também de diversas naturezas, estando, assim, longe de ser tão só legal; é, mais do que isso, é um problema ético.
Nesse cenário, um grande protagonista de tal processo pode ser o exercício de algumas universidades em abordar o assunto nas ações de aplicação dos conhecimentos juntos à comunidade local. Práticas assim têm ganhado bastante visibilidade atualmente, a ponto de suscitar mudanças na dinâmica institucional de universidades, na formação de proefessores/as e na vida das pessoas em geral.
Suas estratégias incorporaram, entre outras coisas, a difusão de uma linguagem mais inclusiva para pessoas LGBT, formação de profissionais de educação, questionamento sobre a demanda por direitos através do Judiciário, o esforço pelo controle social da formulação e implementação de políticas públicas, a produção de material didático sensível às diferenças humanas etc. Além disso e não menos importante, esse trabalho acadêmico fomenta práticas de políticas lúdicas, como saraus, festivais e mostras de arte, todas problematizando as violências que pessoas LGBT+ sofrem, bem como defendendo a naturalidade em ser diferente do ponto de vista do gênero e da sexualidade.
Com ações de extensão universitárias assim, está em causa a sensibilidade para os afetos e desejos que extrapolam as normas da heteronormatividade, assim como para as diversas conexões entre sexo, gênero e comportamentos eróticos na definição da pessoa e seus direitos. Um exemplo pungente é o trabalho do recém-formado Núcleo de Estudos Críticos do Discurso e Teoria Queer (NuQueer) da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Liderado pelo professor Iran Melo (@iran.f.melo), este grupo atua empreendendo atividades coletivas e públicas de autoafirmação da comunidade LGBT+, “práticas que, ao longo das últimas décadas, têm configurado verdadeiros deslocamentos no modo desses indivíduos se comportarem e serem representados”, como afirma o docente.
O NuQueer busca fazer parcerias com diferentes entidades e organiza preferencialmente trabalhos para formação de professores/as da educação básica. O contato com Núcleo pode ser feito pelo e-mail nuqueerufrpe@gmail.com ou pelo telefone (81) 98713-7273.
A extensão universitária para o público LGBT+, portanto, é um braço perfeito que relaciona a teoria e a prática dos saberes construídos pelas ciências no atendimento às necessidades de um grupo populacional tão alijado socialmente. Com exemplos assim, podemos caminhar melhor para uma mudança social que permita um mundo com mais amor e justiça.