JavaScript não suportado

 

Relatório aponta que idosos se sentem esperançosos diante da pandemia

imagem com a logo do Bairro Amigo da Pessoa Idosa com imagem de um casal de idosos

Num cenário de grandes perdas e dificuldades, pessoas idosas do Recife se sentem esperançosas diante da pandemia de Covid-19. A interessante constatação é um dos resultados de pesquisa realizada pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e a Prefeitura do Recife – por meio da Gerência da Pessoa Idosa – divulgada na última sexta-feira (23/04), dentro do relatório da primeira etapa do projeto Bairro Amigo da Pessoa Idosa.

A pesquisa – realizada entre agosto de 2020 e fevereiro de 2021, com cerca de 300 idosos de características heterogêneas, de 60 a mais de 90 anos – teve o intuito de registrar a situação das pessoas idosas em tempos de distanciamento social e crise pandêmica. Os dados vão servir de base para o planejamento, monitoramento e redirecionamento de iniciativas, visando ao fortalecimento de políticas públicas voltadas à integralidade da pessoa idosa.

De acordo com o relatório e com base em Balsanelli, Grossi e Herth¹, a esperança está relacionada a uma perspectiva positiva quanto ao futuro a partir de uma efetiva estratégia de enfrentamento e expectativa de alcançar um objetivo ou algo necessário para a vida. Sugere o documento, dessa forma, que é possível acreditar na esperança, somada aos fatores motivacionais, ao suporte da família e às diversas formas de comunicação, como fator colaborador para o enfrentamento, superação e/ou resolução dos problemas. No cenário pandêmico, esses problemas incluem a separação temporária dos familiares, as perdas por falecimento, as restrições das atividades realizadas diariamente, entre outras.

Além do sentimento de esperança ter aparecido entre 69% dos participantes, em outra pergunta, sobre “as atividades que deixou de realizar durante a pandemia e em quanto isso afetou o seu ânimo e a sua alegria de viver”, 52% disseram que a pandemia afetou muito, mas não lhes tirou o ânimo e nem a alegria de viver. Enquanto que 30% disseram ter a pandemia afetado pouco nesses aspecto.

De acordo com o documento, “é importante refletir aqui sobre a importância da manutenção da independência e autonomia na vida das pessoas idosas, o que permitiu que as mesmas, ainda que com uma idade muito avançada, pudessem estar somente na companhia do seu/ sua cônjuge, provavelmente também idoso(a), e até mesmo sozinhas no enfrentamento das adversidades da pandemia”. Do ponto de vista psicológico – conforme o relato das especialistas do projeto, a manutenção das funções e das atividades corriqueiras proporciona à pessoa idosa o prazer da autonomia e da posse de sua própria vida. Esses elementos, sem dúvida, são importantes para o bem-estar e para a saúde mental.

Por outro lado, a independência mencionada trouxe à tona outra questão: 60% dos respondentes saíram de casa, no período, mesmo com as recomendações para permanecerem em distanciamento social, sendo que 47% saíram para realizar suas próprias compras e 34% para dar continuidade aos tratamentos médicos. “Entende-se que a continuidade dos tratamentos médicos são essenciais para a prevenção de novas enfermidades e o não agravamento de doenças pré-existentes, mas o fato de saírem para fazer compras gera reflexões no sentido de que ajustes familiares poderiam ter sido feitos”, destacam as autoras do documento.

PROJETO – Após a conclusão da primeira etapa do projeto, com a divulgação do relatório, a próxima fase será direcionada ao eixo Ação e Empreendedorismo, no período pós-pandemia, com a realização de oficinas e capacitações direcionadas às pessoas idosas, no campus da UFRPE.

A ideia do Projeto Bairro Amigo da Pessoa Idosa (Bapi) surgiu logo após a realização da palestra A Revolução da Longevidade e as Cidades, na 7ª Jornada Municipal de Direitos Humanos, em 2019, proferida pelo professor Alexandre Kalache. A partir daquele momento, foi lançada a possibilidade da chamada Cidade Amiga da Pessoa Idosa – almejada para um futuro breve, para o Recife. Para tanto, a Prefeitura se uniu à UFRPE e ao Instituto de Pesquisas e Estudos da Terceira Idade (IPETI), com um objetivo comum: promover qualidade de vida para as Pessoas Idosas. O Projeto foi discutido e dimensionado – decidindo-se por um Bairro Amigo da Pessoa Idosa: o Sítio dos Pintos, locus da UFRPE. A comunidade foi ouvida e as ações foram planejadas. Entretanto, a pandemia do novo Coronavírus chegou afetou as atividades, que foram replanejadas e adequadas.

Na UFRPE, o projeto é coordenado pelas professoras Daniele Vieira (DADM) e Nayana Pinheiro (Núcleo de Envelhecimento, Velhice e Idosos -NEVI/Instituto Menino Miguel).

A primeira etapa do projeto se tornou, portanto, a realização do eixo Ação COVID-19, baseada na pesquisa para avaliar o impacto da pandemia na população idosa do Recife.

Além de ser um produto assinado pela Academia e pelo Poder Público Municipal, o Bapi conta com o apoio do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa do Recife, não apenas desempenhando seu papel democrático e constitucional, mas também de forma financiadora, através do Fundo Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa.

De acordo com o censo 2010, do IBGE, os dados, no Recife, apontaram um contingente idoso da ordem de 177.714 habitantes, representando 11% da sua população e significando uma taxa média de crescimento de 2,9 ao ano.

Como exposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS)² “uma cidade amiga do idoso estimula o envelhecimento ativo ao otimizar oportunidades para saúde, participação e segurança, para aumentar a qualidade de vida à medida que as pessoas envelhecem”.

O reitor da UFRPE, professor Marcelo Carneiro Leão, acredita que, com a chegada da pandemia, a sociedade ficou mais atenta às questões inerentes ao público idoso, por esse segmento ter sido o mais afetado inicialmente. Dessa forma, governo, instituições de ensino e sociedade civil tiveram que se empenhar de forma mais assídua na elaboração e efetivação de ações para a prevenção e proteção dessas pessoas, de forma a garantir-lhes segurança, proteção, bem-estar e vivência da cidadania.

Conforme expõe no Prefácio do documento, “para além da importância histórica, social, afetiva e cultural, as pessoas idosas desempenham um papel central no desenvolvimento local das regiões em que vivem, e como tal, um maior entendimento de como essas pessoas vivenciaram o período de pandemia torna-se bastante oportuno, sobretudo, para que sejam pensadas e elaboradas novas formas de (re)inserção e (re)adaptação dessas ao contexto social no pós-pandemia”, ressalta.

-------------------

1 BALSANELLI, A. C. S.; GROSSI, S. A. A.; HERTH, K. Avaliação da esperança em pacientes com doença crônica e em familiares ou cuidadores. Acta Paul. Enferm., v. 24, n. 3, p. 354-358, 2011.

2 ONU – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, Plan de Acción Internacional de Madrid sobre el envejecimiento, 2002.

Acesse o Relatório anexo abaixo.

Para mais informações: daniele.vieira@ufrpe.br, nayana.pinheiro@ufrpe.br