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X Lecid acontece em dezembro

   

A nona edição do Simpósio Letramentos para Cidadania, ocorrida nos dias 02 e 03 de fevereiro de 2023, foi dedicada à discussão sobre a “democratização das universidades”. Previsto para acontecer ao final do ano anterior, teve de ser realizada meses depois em razão da disputa eleitoral (que encerrou a vitória da frente democrática) e da Copa do Mundo de futebol. Durante o evento, PETianos/as e convidados/as fincaram posições a respeito da necessária 'retomada’ do processo de democratização de nossas universidades, algo que obviamente não se esgota com a simples expansão do número de vagas, mas também pela garantia ao acesso e a permanência. Concluímos que está cada vez mais evidente a necessidade de ampliar e qualificar os instrumentos que garantem a inclusão dos estudantes em sua diversidade.

Passado quase um ano desde que foi reestabelecida a “normalidade democrática”, entre avanços, estagnações e retrocessos, ainda não se vislumbra com tanta clareza o projeto de educação defendido pelo atual governo. Em que pese os reajustes dos valores das bolsas, auxílios e o aumento dos recursos destinado à educação, ciência e tecnologia, não se sabe ainda se esses investimentos perdurarão, ou se o mercado, com seus mecanismos de controle do orçamento público, mais uma vez frustrarão os esforços que colaboram à democratização do ensino superior. Em outras palavras, e partindo da provocação do  Fernando Cássio (2019), ainda não sabemos se estamos a “desbarbarizar a educação”!

Ao lado dessas questões estruturais, e em íntima relação com elas, corre toda a sorte de barreira simbólica à construção de um ambiente universitário mais popular. A estrutura da maior parte das universidades brasileiras advém do período ditatorial militar, caracterizado pela rigidez e pela instrumentalização do ensino em favor de um projeto de desenvolvimento capitalista e dependente. Dentro delas, a relação professor-aluno é até então calcada em um modelo hierarquizado, de uma “educação bancária”, longe ainda da “dialogicidade” a que Freire (2005) tanto se reportava. Ainda mais preocupante é ver perdurar uma cultura acadêmica livresca e escolástica, importada da Europa, que poucas vezes se relaciona com as culturas populares, nem toma proveito dos saberes-fazeres ligados aos grupos mais tradicionais e às populações periféricas urbanas.

O ingresso crescente de jovens pobres, negros e periféricos, que passaram a ocupar espaços antes reservados apenas à branquitude, quebrando a sequência geracional de não-acessos ao ensino superior, tem sacudido essa cultura hegemônica, levando muitos professores à errônea percepção de precariedade e decadência. Na verdade, a própria crença numa suposta deterioração da qualidade, muitas vezes calcada em juízos de valor negativos em relação a certos corpos, performances e variedades linguísticas, revela uma forma muito sutil de preconceito de fundo classista e racista. É preciso entender que a presença desses jovens dentro da universidade é algo por si só transformador, e nos oferece a oportunidade de rever concepções arraigadas, para que finalmente possamos construir uma universidade cada vez mais próxima da sociedade brasileira.

Ao mesmo tempo, e de forma sorrateira, grandes conglomerados empresariais do setor educacional, ao lado de algumas instituições internacionais pressionam pela incorporação de uma racionalidade neoliberal em todos os níveis de ensino. Na educação superior, além de sugerir a privatização, tentam impor a competição e o desempenho como critérios para as políticas de financiamento científico e tecnológico. O resultado é a instrumentalização da pesquisa científica em favor dos interesses do mercado e o estabelecimento de diferentes “cidadanias universitárias” entre professores e alunos, que passam a disputar entre si o acesso a recursos. As demandas percebidas e vividas pela sociedade brasileira vão ficando em segundo plano, assim como as formas de sentir e fazer dos grupos de menor prestígio social.

Uma universidade popular e democrática, conforme defendia Florestan Fernandes (1975), exigirá de nós a coragem de direcionar a pesquisa, o ensino e a extensão em favor do desenvolvimento social, buscando construir a partir de nossos próprios recursos os aperfeiçoamentos técnicos e avanços científicos essenciais à transformação social. Não se trata de simplesmente seguir os passos dos países centrais e reproduzir aqui o modelo de educação funcional ao progresso capitalista, mas de fomentar um novo modelo intimamente ligado às culturas populares, despido, assim, de toda e qualquer forma de preconceito. Em suma, e parafraseando Conceição Evaristo (2007), precisamos criar um ensino superior que não sirva para “ninar os da Casa Grande, e sim incomodá-los em seus sonos injustos”.

 

As inscrições estão abertas no site do evento e são gratuitas.

https://www.even3.com.br/x-simposio-letramentos-para-cidadania-414613/