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Estudante desenvolve projeto que valoriza contribuição das mulheres na ciência

mulheres na ciência

karine rito
      Karine Rito idealizou o projeto
      Mulheres na Ciência UFRPE

Nascida numa família de mulheres fortes, filha e neta de professoras, a estudante da UFRPE Karine Rito, 20 anos, assumiu para si um desafio de dimensões gigantescas, debatido por pessoas em várias partes do mundo, mas ainda longe de ser superado. Garantir a presença e o reconhecimento feminino no universo da pesquisa científica, na academia, dentro das universidades e institutos, passou a ser uma missão de vida para a discente. Por meio de iniciativa pessoal, Karine criou o Projeto Mulheres na Ciência UFRPE (@mulheresnacienciaufrpe), que se propõe a dar visibilidade e divulgar o trabalho de pesquisadoras num perfil do Instagram. Iniciada em julho do ano passado, a iniciativa já rende frutos e mobiliza pessoas de todos os gêneros para a relevância da questão.

“A ideia de enaltecer cada vez mais as pesquisadoras era uma vontade antiga, pois desde que ingressei no meio acadêmico sentia essa necessidade de mostrar ao público, seja ele acadêmico ou não, o que nós mulheres somos capazes de fazer na pesquisa e na academia. Essa vontade só aumentou depois dos ataques que o meio acadêmico e científico sofreram nesse mesmo ano (2019)” explica Karine.

A história de Karine na UFRPE iniciou há três anos. Quando ainda contava 17 anos de idade, deu início ao curso de bacharelado em Zootecnia. Ao longo da graduação, pôde ter contato com pesquisadoras com trabalhos que considerava “inovadores, revolucionários”, mas que nem sempre contavam com o mesmo prestígio e reconhecimento de pesquisas realizadas por homens. Ao longo de sua experiência no curso de Zootecnia, teve a possibilidade de desenvolver uma pesquisa pelo Programa de Iniciação Científica Voluntária (PIC), na qual estudou alternativas de nutrição animal para ovinos. As vivências na academia a fizeram se apaixonar pelo universo das pesquisas. Inspirada por ideais feministas, decidiu, então criar o Mulheres na Ciência UFRPE.

karine, e pesquisadoras
Karine Rito, Sônia Guimarães (ITA) e Maité Kulesza (UFRPE)

O @mulheresnacienciaufrpe no Instagram conta atualmente com uma base de mais de 3.250 seguidoras e seguidores. A proposta é relativamente simples: publicar sínteses de estudos realizados por cientistas mulheres vinculadas à UFRPE, sejam projetos de iniciação científica, trabalhos de conclusão de curso, dissertações de mestrados, teses de doutorado, artigos apresentados em congressos ou publicados em periódicos. Atualmente o Mulheres na Ciência UFRPE conta com a mentoria da professora Maité Kulesza, docente do Departamento de Matemática da UFRPE.

A produção de conteúdos segue um processo colaborativo, feito em parceria com as cientistas retratadas. Cada pesquisadora contribui com três imagens em que estão desenvolvendo atividades acadêmicas, com um breve resumo de suas histórias enquanto pesquisadoras e uma síntese de algum trabalho que desenvolve. A partir dessas contribuições, Karine ajusta as imagens à identidade visual do projeto, utilizando ferramentas gratuitas disponíveis na internet. Depois organiza os textos e disponibiliza as publicações no @mulheresnacienciaufrpe.

Por trás dessa aparente simplicidade, há na proposta questões de grande complexidade, que buscam questionar as estruturas sociais que dificultam o acesso feminino à ciência e a outros espaços de poder na sociedade. “Sonho com uma sociedade diferente, em que meninas e mulheres sejam tratadas de igual para igual e estejam ocupando por direito o lugar que merecem. Avançamos bastante nos últimos anos, mas ainda há muito a ser conquistado”, reforça.

Trabalho em escolas

Pelo exemplo da mãe e da avó como docentes, e por sentir um chamado especial pelo trabalho em escolas e nas salas de aula, Karine fez novamente o ENEM e ingressa em 2020 no curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, uma grande paixão desde os tempos de escola. Como futura professora, ela pretende promover ações de sensibilização e conscientização voltadas ao encorajamento de meninas e mulheres.

“Fui aluna da rede pública estadual e conheço a realidade de perto. O quanto algumas meninas têm seus sonhos ridicularizados por ouvirem, por exemplo, que tal carreira não serve para elas apenas por serem mulheres. Ou até mesmo dentro da academia quando sentimos na pele as raízes do machismo nas áreas em que majoritariamente são lideradas por homens”, diz.

reitora maria josé de sena
    Reitora da UFRPE, Maria José de Sena

Uma das referências de Karine dentro da UFRPE, a reitora Maria José de Sena ressalta o quanto ações como o Mulheres na Ciência UFRPE podem contribuir para que mais mulheres ocupem espaços dentro da academia e em toda a sociedade.

“Senti na pele essa realidade. No meu tempo de escola, nós, meninas adolescentes, éramos preparadas para exercermos posições praticamente já preestabelecidas. Tínhamos que escolher entre ser dona de casa ou, no máximo, professoras primárias. Tive que fazer um esforço enorme para seguir as minhas escolhas”, afirma a reitora.

“Fico extremamente feliz e otimista quando vejo iniciativas como a da Karine, e de tantas outras meninas nos dias de hoje. Mais na frente vamos colher bons frutos, tenho certeza disso. Nós, mulheres, podemos ser o que quisermos, seja no mundo da pesquisa ou em outros espaços onde ainda somos minoria”, completa Maria José de Sena, lembrando que o universo da política e dos negócios ainda são lugares que privilegiam em sua maioria os homens.

karine rito apresenta trabalho
   Karine apresenta projeto em evento acadêmico

Com o Mulheres na Ciência UFRPE, Karine Rito teve a oportunidade de conhecer pessoas que admira enquanto pesquisadoras. Em janeiro deste ano, ela participou de um evento com a professora Sônia Guimarães, primeira mulher negra brasileira doutora em Física e primeira mulher negra brasileira a lecionar no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). Na ocasião, que contou com a presença do ex-ministro da Ciência e Tecnologia Sérgio Rezende, a estudante da UFRPE compartilhou sua experiência à frente do @mulheresnacienciaufrpe.

mulheres na ciênciaTransmissão ao vivo neste sábado (18/04)

Neste sábado (18/04), será realizada a primeira transmissão ao vivo do perfil no Instagram. A própria Karine Rito debaterá com seguidoras e seguidores o tema “Covid-19 e Mulheres na Presidência: um olhar sobre como a pandemia se manifesta nesses países”. A proposta surgiu de uma reportagem da revista Forbes que destaca o bom trabalho feito por líderes mulheres em todo o mundo frente à atual pandemia. A “live” se inicia às 15h, no @mulheresnacienciaufrpe.

Por quase nunca ter sido objeto de publicações no projeto, o início das transmissões ao vivo representa uma nova fase no Mulheres na Ciência UFRPE. “Criei o perfil sem querer aparecer, sem querer focar muito em mim. Mas sei que é preciso ter coragem, expor nossa cara, pois é uma luta muito difícil a enfrentar”, diz Karine. Sobre o futuro do projeto, a estudante ressalta que o apoio encontrado entre seguidoras e seguidores a motiva a seguir em frente com a iniciativa.

“Nossas pequenas ideias podem crescer, ajudar pessoas, inspirá-las. É o que venho sentido desde que dei início ao Mulheres na Ciência”, finaliza.