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Grupo Macondo presta homenagem e lamenta falecimento do artista Jaider Isbael

ufrpe

O grupo de Estudos e Pesquisas Macondo: artes, culturas contemporâneas e outras epistemologias, sediado na Unidade Acadêmica de Serra Talhada, lamenta imensamente o falecimento, no dia 02/11/21, de Jaider Esbell. Artista, escritor, cineasta, performer, curador e a(r)tivista do povo indígena Macuxi, Jaider teve papel central na movimentação em prol da Arte Indígena Contemporânea e, para além desse protagonismo sem precedentes, Jaider também foi um amigo querido que deixou sua arte, alegria e sabedoria na UAST para todo o sempre. 

foto1Para honrá-lo, gostaríamos de partilhar, mais uma vez, trechos dessa experiência tão transformadora para nós. Em 2016, Jaider esteve conosco em residência artística e deixou lições para uma vida. Uma delas é de que uma revolução só se faz percorrendo cada canto desse território. Quanta boniteza aprendemos montando a exposição It was Amazon, ao ar livre, em frente ao bloco 3 da nossa unidade acadêmica. 

Nesse mesmo período, Jaider ofereceu uma oficina em que guiou a comunidade acadêmica e quem mais quisesse se aprochegar para pintar um mural no bloco 3. Fizemos rodas de conversa, trocamos vivências sobre a Amazônia e a Caatinga, aproximamos mundos a partir dos deslocamentos de aprendizagem propostos por Jaider. Em 2017, mais uma vez com incondicional apoio e generosidade de Jaider, reeditamos a exposição It Was Amazon durante os dias de exibição da I Mostra de Cinema Indígena da UAST-UFRPE. 

Jaider agregava pessoas, saberes e afetos numa articulação complexa e bela para sustentar os céus sobre nossas cabeças. A dimensão da cosmologia indígena, tão aventada por Jaider em suas obras, nos ajuda a lidar com esse momento. Deixamos aqui, para finalizar nossa homenagem, a carta da professora Paula Santana, coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas Macondo:

foto2“Jaider era um tradutor mágico de mundos e não é sempre que a gente pode encontrá-los.  Lembro de escutá-lo falar, entre um dudu de murici e outro, enquanto víamos o menino do rancho na aldeia Serrinha, da grande revolução que estava em curso: iniciava-se ali a era da Arte Indígena Contemporânea. A partir da rede afetuosamente tecida por Jaider, conheci um tanto de gente também irmanada na luta maior da vida do planeta e de todos os seres que o habitam. 

A revolução fervilhava de canto a canto de Pindorama, de território Ianomâmi e Macuxi ao território Pankararé e Guarani Mbya. Ultrapassava fronteiras reais e imaginárias nos museus, nas universidades, nas galerias de arte, nos centros culturais dos bairros periféricos, nas revistas de moda, no Vaticano e onde mais fosse possível e impossível. 

De ontem pra hoje o coração apertou porque beira o insuportável pensar num mundo sem a sua caneta posca, sem as histórias coloridas do grande Makunaima e sem a damurida com caxiri. Mas não há ausência quando a arte é o legado. Jaider transformou a ordem desse mundo e sempre germinarão sementes de jenipapo e urucum para  pintar outros mundos também. Em Terreiro de Makunaimî, o nosso poeta já avisava: “Assim os dias passaram, e esta estória não tem fim”.

Eita! Encantaria bonita de viver. 

Obrigada pela partilha, pelo carinho e por tanta boniteza infinita, compa!”

 

Documentário que registra a I Mostra de Cinema Indígena da UAST-UFRPE, dirigido por Graciela Guarani e Alexandre Pankararu.

 

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