A UFRPE participou, nesta quinta-feira (17/12), de um importante capítulo da história da ciência e da popularização científica. Em votação na Câmara Municipal, o município de Santa Filomena, no interior do Estado, teve aprovado o Projeto de Lei nº 11/2020, que institui a Semana Municipal do Meteorito. O evento ocorrerá anualmente no aniversário da queda do meteorito - que é da época de formação do sistema solar - em 19 de agosto. Também foi aprovado, no dia anterior, na Assembleia Legislativa de Pernambuco, projeto de lei que confere à cidade o título de Capital dos Meteoritos.
Com o marco legal, a região poderá estimular o potencial histórico, cultural e o chamado turismo astronômico, que contribuirá para o desenvolvimento local e o fomento à pesquisa entre as futuras gerações. A equipe da UFRPE fez o empréstimo de um telescópio para a implantação de um Clube de Astronomia, a ser coordenado pela prefeitura da cidade, incentivando a prática das atividades astronômicas e da ciência de maneira geral. Também ofertou duas vagas para professore(a)s municipais no Curso de Especialização em Ensino de Astronomia, recém-inaugurado na UFRPE.
Junto com instituições como a Secretaria de Ciência e Tecnologia de Pernambuco, a Fundação de Amparo a Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe), o Espaço Ciência e o Observatório Nacional, a UFRPE também contribuirá com a instalação de um observatório astronômico e a promoção de cursos e eventos científicos no município. Dentro das ações, a Facepe também ofertou duas bolsas de iniciação científica para estudantes locais.
Principal incentivador das ações em prol do município, o professor da UFRPE e astrofísico Antônio Carlos Miranda mobilizou um comitê especial com representantes das entidades citadas acima quando tomou ciência da compra exploratória de fragmentos do meteorito realizada por atravessadores e pesquisadores de outros estados e países, como os Estados Unidos. Um mês após o acontecimento astronômico – que representa um dos mais importantes da história pelo valor científico do material espacial – o pesquisador visitou o município com a equipe para sensibilizar as autoridades locais sobre a importância da preservação dos objetos e suas consequências positivas para a ciência, a educação e o desenvolvimento regional.
Em discurso na sessão de aprovação do projeto de Lei, do poder Executivo, o professor Miranda destacou o valor histórico e científico do acontecimento para a região, que virou notícia em todo o mundo pela queda de um meteorito datado com mais de 4 bilhões de anos, representando um fóssil da composição da Terra. “A sua composição química pode, inclusive, conter molécula orgânica que vai explicar a origem da vida em nosso planeta”, ressaltou.
O professor criticou o fato de representantes de outros países e até do Rio de Janeiro terem comprado da população diversos fragmentos. “Esses cientistas vão publicar artigos internacionais e ganhar prêmios nas cidades e países deles, mas precisamos preservar a autenticidade do local onde ele caiu. Propusemos criar um museu de ciências com fragmento do meteorito para quem quiser estudar e publicar venha fazê-lo aqui”, afirmou.
O pesquisador sublinhou a importância de consolidar a divulgação, para o mundo, de que Santa Filomena tem história do local onde caiu o meteorito de maior valor científico e histórico do planeta. “O futuro da ciência, no Brasil, pode começar aqui. Com essa lei, o município, independentemente da gestão, institui o compromisso de divulgar esse acontecimento mundial. Quem agradece são as futuras gerações e a ciência”, finalizou.
Além das atividades já iniciadas e da proposta de implantação de um museu, o comitê também propôs a realização, em Santa Filomena, da próxima edição da Semana de Popularização da Ciência do Semiárido no aniversário de um ano da queda do meteorito.
Na justificativa do projeto municipal, o prefeito, Cleomatson Vasconcelos, salientou que “A astronomia é uma ciência que precisa ser divulgada e apreciada pelo seu valor histórico”.
Já no projeto estadual que conferiu a Santa Filomena o título de Capital dos Meteoritos, de autoria do deputado estadual Antonio Fernando, destacou-se a relevância da campanha em defesa do nosso patrimônio científico e cultural, no qual se inclui os meteoritos. “Entendemos que proteger a ciência e a cultura é ação que gera soberania em um país. O meteorito ganhará o nome de Santa Filomena e a cidade irá integrar os registros científicos do Boletim Internacional de Meteoritos (Meteoritical Bulletin Database).
Ainda no projeto estadual, ressalta-se que “toda vez que um meteorito toma um caminho diferente daquele que leva à ciência e à educação ele deixa de servir a comunidade como um todo, científica ou não, e acaba por ficar perdido, escondido em uma coleção privada, ou por alimentar a ilusão de enriquecimento daqueles que acham que sejam valiosos por serem pouco comuns”.
Para o deputado, os meteoritos não têm utilização industrial e nem uso como pedra preciosa. Eles cumprem um destino mais valoroso para a humanidade se forem estudados expostos ao público em geral. “O recente acontecimento da chuva de meteoritos em Santa Filomena, em Pernambuco, evidenciou este lado mais sombrio, trazendo a público a discussão sobre o direito de posse, a avidez e o descompasso entre interesses individuais, e o cuidado e respeito para com a população local e a ciência.”
O município de Santa Filomena fica localizado no Sertão do Araripe, em Pernambuco, divisa com o Piauí. Com pouco mais de 13 mil habitantes, não possui grandes recursos nem atividades industriais, e 80% da população vive da agricultura familiar.