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Pesquisador na Alemanha, ex-aluno da UFRPE abre escola de robótica em Serra Talhada

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Pablo Barros, 27 anos, é hoje um exemplo do quão longe podem chegar os jovens que ingressam nas universidades públicas brasileiras. Egresso da Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST) da UFRPE, Pablo fez parte da primeira turma do curso de Sistemas de Informação da Unidade. Depois de passar pelas etapas do mestrado (Engenharia da Computação/POLI-UPE) e doutorado (Cognição Robótica, Universidade de Hamburgo), hoje é pesquisador sênior do Knowledge Technology Institut, na Alemanha, na área de integração multimodal, que busca entender e reproduzir em robôs o funcionamento da comunicação entre áreas cerebrais encontradas em humanos.

Em conjunto com sua família, Pablo decidiu compartilhar seus conhecimentos e sua experiência com crianças e jovens de Serra Talhada, por meio da abertura da primeira escola de robótica do município e, provavelmente, a única da região nesses moldes. A Robotech.Edu surge com a missão de fazer da robótica uma oportunidade de educação para crianças e adolescentes, na medida em que é uma área multidisciplinar que envolve muitas possibilidades de conhecimento.

EXPANSÕES
Em 2006, a UFRPE iniciava sua trajetória no sertão do Pajeú com a fundação da UAST. Fruto do Programa de Expansão e Reestruturação das Universidades Federais (Reuni), criado em 2004 pelo Governo Federal, a UAST significou a oportunidade de educação superior de qualidade aos estudantes residentes na região, que antes teriam que ir às capitais para dar seguimento a seus estudos. Além da UAST e do campus Recife, a UFRPE possui as unidades de Garanhuns (UAG) e Cabo de Santo Agostinho (UACSA).

Confira na entrevista abaixo os detalhes sobre a Robotech.Edu e sobre a experiência acadêmica e profissional do Pablo Barros.

ENTREVISTA – Pablo Barros

UFRPE - Como surgiu a ideia da criação de uma escola de robótica em Serra   Talhada?

PABLO BARROS -  A ideia da Robotech.edu foi "cozinhada" por um bom tempo entre eu e meu pai, que é o outro sócio da empresa. Enquanto fazia meu doutorado, tive a chance de participar de vários eventos e conferências na área de robótica, e um dos grandes focos de desenvolvimento nesses eventos é o ensino a jovens e crianças. 

A robótica é uma área multidisciplinar, envolvendo conceitos de várias áreas de conhecimento diferentes (exatas, saúde e até mesmo humanas!). Começamos a analisar o mercado no brasil, e principalmente em Pernambuco para esse tipo de empreendimento. Existe um grande interesse nessa área por parte do governo estadual, e no Recife existem várias escolas que já ensinam robótica, e mais ainda, usam a robótica como ferramenta e meio de ensino para outras áreas. Infelizmente, no interior do estado isso ainda não acontece.

A partir daí, começamos a pensar na melhor maneira de implementar uma escola de robótica em Serra Talhada, região onde meu pai reside atualmente e de onde nossa família é natural.

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UFRPE - Como você acredita que a Robotech pode contribuir com o desenvolvimento da região?

PABLO BARROS - A robótica é por natureza uma área multidisciplinar. Você tem conceitos de ciências exatas (como mecânica, eletrônica, computação...), as chamadas ciências de saúde - terminologia adotada pela ENEM (soluções bio-inspiradas, sejam para problemas estruturais - forma, composição -, sejam para problemas de comportamento - redes neurais artificiais, inteligência de enxames), e até mesmo na área de humanas - campos de estudo como interação homem-robô, filosofia, ética, e psicologia experimental, só pra citar alguns exemplos.

Existem vários estudos que indicam que o estudo da robótica, ou em um passo mais adiante, a integração da robótica como ferramenta e ambiente de ensino, melhoram a capacidade cognitiva de crianças e adolescentes. Isso se deve ao grande incentivo a criatividade, a criação de soluções inteligentes para problemas comuns e complexos e o trabalho em equipe. 

O estudo da robótica também acarreta um efeito bem interessante: um aluno que estuda robótica, e entende a robótica, consegue abrir sua mente para a realidade do nosso mundo. Vivemos em um mundo muito diferente do que a 10 anos atrás, e que vai ser muito mais diferente daqui a 10 anos. Um jovem que consiga aprender como esse mundo vai ser, e consiga entender que robôs já são, e vão ser ainda mais, parte integral do nosso mundo, não somente como uma máquina, mas como entidade funcional da nossa sociedade, será capaz de a) se integrar nessa sociedade e b) o mais importante, moldar essa sociedade de forma a criar uma melhor qualidade de vida a todos os envolvidos.

Acreditamos que com a inclusão do curso de robótica em uma sociedade como a do sertão do estado, podemos estar dando ferramentas ímpares aos jovens para finalmente começarmos a sair do século XX, o que infelizmente ainda é a realidade da região.

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UFRPE - Quem pode participar das atividades da escola e como buscar informação sobre a mesma?

PABLO BARROS - Estamos abrindo a escola com o nosso curso de introdução a robótica. Nesse primeiro curso, estamos focando em alunos de 10 a 18 anos. Fizemos essa escolha após analisar a demanda da cidade nessa faixa etária, e por que, a princípio, seria o grupo mais impactado pelo que iremos ensinar.

O nosso curso de introdução a robótica tem uma duração de 9 meses, e será dividido em três módulos. No primeiro módulo, o aluno será iniciado na área de robótica e aprenderá os conceitos básicos para entender o que são robôs e como eles fazem parte da nossa sociedade, e começarão a desenvolver seu primeiro projeto de robótica. No segundo módulo, os alunos conhecerão um pouco mais a fundo sobre a capacidade dos robôs perceberem e interagirem com o mundo a sua volta, e nesse módulo os alunos irão construir o primeiro robô responsivo. No último módulo, iremos dar um passo além do robô responsivo, e ensinaremos conceitos básicos de como planejar o comportamento de um robô, com pequenos toques de inteligência artificial. 

Em cada módulo os alunos receberão nosso kit Robotech.edu, baseado na plataforma Arduino. Cada um dos nossos três kits (um por módulo) contém componentes para a criação de projetos robóticos, como sensores, motores, microprocessadores e estruturas física.

Estamos planejando para cada módulo a criação de pequenos campeonatos de ideias, onde os alunos irão se reunir em equipes e desenvolver um determinado robô com o conhecimento e os componentes recebidos em cada kit. Dessa forma estaremos estimulando o trabalho em equipe e a consciência criativa entre nossos alunos. O foco final, é prover nossos alunos com conhecimento diferenciado na área de robótica, usando principalmente minha experiência na área, e muita diversão.

Para mais informações, os interessados podem visitar nosso website: www.robotechedu.com, nossa página do Facebook: www.facebook.com/escola.robotech.edu, através do nosso e-mail: contato@robotechedu.com ou entrar em contato através do telefone: (87) 99610-2098.

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UFRPE - Estando na Alemanha, como será sua participação na Robotech? Quem vai ser responsável pelas ações da escola em Serra Talhada?

PABLO BARROS - A escola é formada por dois sócios, eu e meu pai. Meu pai reside em Serra Talhada e vai ser responsável por dar as aulas. Ele tem uma extensa formação em administração de empresas, e experiência com tecnologia e robótica. Fazendo parte da escola, temos também a minha mãe, que é psicopedagoga e está formulando toda a estrutura das aulas, e a minha irmã que fará montará as aulas de inglês técnico.

Eu fico responsável por criar o conteúdo do curso, além planejar os kits, projetos e novidades que iremos mostrar aos nossos alunos. Estamos planejando também que algumas aulas por mês sejam dadas por mim, através do uso de videoconferência. Temos também uma plataforma virtual para suporte aos nossos alunos, que servirá para divulgação de material, fóruns de discussão, chats, etc... e que farei parte ativamente, sempre em contato com nossos alunos.

Nomes de cada um dos integrantes:
Jâmisson Barros do Amaral - meu pai
Elisiê Carmen Alves de Barros - minha mãe
Amanda Gisele Alves de Barros - minha irmã

UFRPE - Em que medida a sua formação na UAST/UFRPE tem influência na sua vida como pesquisador/empreendedor e na abertura da escola de robótica?

PABLO BARROS - Minha carreira acadêmica e profissional começou na UAST. Sem a formação inicial na área de sistemas de informação, eu não teria chegado onde estou. Fico feliz de ter feito parte da primeira turma de formandos de Sistemas de Informação da unidade, e posso garantir que o conhecimento que adquiri lá me fez um profissional extremamente competitivo para o mercado, seja em pesquisa, seja na indústria. 

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UFRPE - Poderia falar um pouco de sua trajetória pessoal/acadêmica/profissional?

PABLO BARROS - Comecei minha graduação na UAST em 2007, no primeiro semestre. Fui parte da segunda turma do curso. Ainda na UAST, junto com alguns amigos, abrimos uma startup e começamos a oferecer alguns sistemas de computação personalizados em Serra Talhada. A gente seguiu com essa ideia por alguns anos, e foi uma experiência fantástica em como desenvolver soluções em equipe e para diversos problemas.

Depois de me formar em sistemas de informação na UAST consegui passar na seleção do mestrado em engenharia da computação na POLI-UPE. Lá tive a chance de conhecer várias pessoas interessantes e participar de um grupo de pesquisa (RPPDI - Grupo de Pesquisas em Reconhecimento de Padrões e Processamento de Imagens Digitais) que me apresentou a áreas como inteligência artificial e reconhecimento de padrões.

Durante essa época acabei participando de vários projetos diferentes, e que me ajudaram muito no desenvolvimento da minha carreira: Fomos finalistas brasileiros da competição Imagine Cup, da Microsoft, com um projeto de inteligência artificial aplicada a saúde social; Ajudei a organizar, e gerenciei o time de visão computacional, do boot-camp de robótica realizado entre o nosso grupo de pesquisa e alguns pesquisadores da NASA. Nesse projeto, acabamos ganhando um robô que simularia exploração inter-planetária, e trabalhamos em conjunto com uma equipe de engenheiros e pesquisadores da NASA para o desenvolvimento de soluções para localização e navegação, que vieram ao Recife para participar do Boot-camp. Foi meu primeiro contato direto com robótica; E no fim, minha dissertação de mestrado acabou sendo sobre a criação de uma técnica de visão computacional para o reconhecimento de linguagem de sinais, o que acabou gerando uma série de publicações científicas em conferências e revistas (científicas) internacionais.

Esse aprofundamento na área de pesquisa científica me aproximou do "Knowledge Technology Institut", da Universidade de Hamburgo (Hamburg Universität) aqui na Alemanha. Em 2013, vim fazer meu doutorado pleno aqui na área de cognição robótica, o que acabou gerando ainda mais publicações científicas de alto impacto. No fim do meu doutorado, escrevi minha tese sobre a adaptação de processos emocionais (percepção, expressão e aprendizagem) para robôs humanóides. 

Hoje trabalho como pesquisador posdoc no projeto "Crossmodal Learning", no mesmo grupo de pesquisa. Esse projeto envolve 6 universidades alemãs e 12 universidades chinesas, e é hoje o maior projeto de computação acontecendo na Alemanha. Sou pesquisador sênior da área de integração multimodal, que tenta entender e reproduzir em robôs o funcionamento da comunicação entre duas áreas cerebrais encontradas em humanos: o colliculus superior (responsável por processamento de informações subcortical - baixo nível) e diferentes áreas do córtex cerebral (responsável por processamento de alto nível).